Quero ser livre como o vento...
Infiltrar-me nos vales sombrios de mim mesma, conhecer os mistérios de vida e de morte, dor e prazer, evolução e involução...
E depois sair, ver o céu, infinito aos olhos, consciente de minha essência, do universo ao qual pertenço e me colocar digna de merecer a minha morada.
Sermos livres é estarmos conscientes da própria essência, do dinamismo que flui em cada átomo, em cada movimentação do ar: estarmos conscientes do que nos inspira, do que nos faz olharmos a vida apaixonados.
Somos uma função, um jeito de ser, um impulso em construir e evoluir, portanto estamos condenados, determinados a sermos livres.
O botão do pé de Magnólia está condenado a florescer e exibir seu perfume e sua semente.
As águas dos rios fluem em direção ao mar buscando acolhimento e se diluem nos braços de seu pai. O rio condenado a se entregar.
O sol se põe, o sol se levanta, esconde a luz, traz a luz todos os dias, numa brincadeira divertida, assim ele oferta a possibilidade de consciência ─ o sol está condenado a ser gentil.
A leoa protege seu filhote, mas outro leão chega e insiste em marcar território, ao ver o corpo do filho sem vida, imediatamente expõe a sua fertilidade. A leoa está condenada a criar e amar.
O ser humano do mesmo modo está condenado a ser feliz, a evoluir naquilo que necessita. Uma jornada, um caminho, um jeito de fazer, de observar as coisas, de buscar a beleza, de encontrar uma lógica, de se refinar, de se sentir pleno.
Condenado a ser Original.
Condenado a ser selvagem.
Existe uma lei, um determinismo indicando o caminho para sermos felizes. Estar sintonizado com essa lei é o que nos faz sentirmos livres ou aprisionados. O único milagre que existe é a autoconsciência.
Nossas prisões são nossos medos, nossa falta de confiança em nós mesmos. Nossa insistência em permanecermos anestesiados, o vício no prazer, a repetição de antigos padrões de proteção.
Quando em nosso mundo tudo parece igual, tudo parece conhecido e previsível estamos aprisionados.
Quando a força do medo nos impede de ir além estamos aprisionados.
Encontrar a liberdade de ser está em nos colocarmos num momento e num lugar absolutamente novo, mesmo que seja o mesmo lugar, mas conseguir observar as diferenças ali contidas. Colocarmos sem nada saber, livres de títulos ou vestimentas que nos amarram ─ criarmos espaços para aprender.
Ao invés de teorias postuladas, esqueçamos de tudo. Vamos nos encontrar com pessoas, e descobrirmos um novo jeito de construir o mundo.
A meu ver, o mais difícil na busca da liberdade de ser está a atitude passiva além da atitude ativa: a confiança na manifestação da lei dos sistemas, que se regem por si próprios; isto é: ter um ato de fé, acreditando no próprio merecimento, nos colocando dignos, que em conseqüência o efeito é atrairmos contextos de mesma energia.
Tudo está vivo em volta de nós ─ material ou imaterialmente, visível ou invisivelmente.
Podemos e devemos nos comunicar com o mundo que desejamos construir, com os nossos sonhos revelados ou não. Vamos deixar a arte se manifestar mesmo que não tenha lógica, por que é este o objetivo: contatar o ilógico, aquele lado de nós mesmos que ainda não conhecemos e transformá-lo em lógico. Assim obteremos as respostas que necessitamos.
Vamos de encontro ao mundo que desejamos assim como o mundo que desejamos vem ao nosso encontro.
Escolhemos um sistema de vida, assim como um sistema de vida também nos escolhe e nos acolhe.
E tudo estará sempre num perfeito equilíbrio.