19/08/2012

Saber o que importa


Quero ter os olhos de Michelangelo, no mármore bruto enxergar a Pietá.

Quero além das aparências enxergar o essencial, mergulhar na profundidade dos princípios e, sobretudo encontrar a mim mesma.

Quero através do silêncio ouvir ainda mais.

Por que palavras não são palavras, são desejos revelados.

Caminhos são encontros e descobertas.

Uma canção, não apenas notas musicais e sim o refúgio da alma, um tempo para se autoconstruir.

O vento não é o ar em movimento, é a natureza nos inspirando, nos envolvendo, um toque embalando o nosso ser.

Uma semente são ciclos determinados a se revelar.

Uma história é uma viagem através dos olhos de uma pessoa.

Vazio não é dor, é a plena liberdade de se autopreencher. A fertilidade em potencial.

O grito é um espaço de tempo, a tentativa de encontrar a si mesmo ouvindo o som da própria voz.

Um ser não é apenas o corpo que o abriga, é a paz que inspira, a liberdade que pratica, a entrega que o sustenta no jeito de ser e observar o mundo.

Que assim eu seja!

Com a espada forjada vencendo os escudos que me impeçam de ver a realidade como ela é. E que no final de todas as lutas eu saiba apreciar a doçura do aconchego.

Que a coragem de enxergar meus anseios e desejos seja percebida apesar da força de meus medos.

Que o culto à beleza e a perfeição da natureza seja inerente ao meu ser ─ inspirando-me sempre.

Que o desconforto presente na aventura de viver não neutralize a ternura do prazer de minhas descobertas.

Que a paixão seja a minha inspiração primeira e em cada atitude eu descubra o que realmente tenha significado e eu me perceba ainda mais.

Que eu esteja consciente de que cada momento é único e que tudo está vivo em volta de nós. E que o milagre da vida recomeça e se renova a cada instante, em cada amanhecer, no verde novo, na esperança do olhar de uma criança. E que eu tenha coragem de recomeçar sempre, por que nunca é tarde demais para sermos a pessoa que desejamos ser.

Que a presença de meu Pai interior aflorada e consciente seja consolidada em minhas ações.

Que apesar das ilusões, dos idealismos, e dos apegos, que meus sentimentos sejam sempre respeitados.

E que eu nunca me esqueça:

Que o único milagre que existe é a autoconsciência e o que verdadeiramente importa é evoluir com significado interno.

04/06/2012

O caminho que nos leva pra casa


Casa de papel,
Casa de boneca,
Casa de chocolate,
Casa de vó,
Casa na árvore,
Casa-prisão,
Casa de campo,
Casa com lareira.

Qual é a casa que nos acolhe? Será que a casa que desejamos é a mesma casa que usufruímos?

A casa que desejamos é um lugar doce, sereno e vivo. Um lugar para adormecer, para nos entregarmos a nós mesmos, aos valores e aos princípios que nos são verdadeiros. Um lugar para recuperar a inocência perdida. Um lugar para nos desnudarmos e recuperar a naturalidade de ser. Um corpo para nos abrigar. Um sentimento de pertencer.

Como encontrar a casa que desejamos? Quais os sinais que nos identificam a direção certa?

Encontrar o caminho que nos leva pra casa é assimilar os ritmos da natureza.

A casa, o caminho, como todos os elementos que compõem o contexto estão vivos clamando por nossa atenção. É muito importante saber ouvir as palavras ditas pelos ritmos. Contam histórias e mensagens de equilíbrio ─ inspirações de um encontro consigo mesmo.

A natureza nos inspira a entrega, o dom da originalidade e da criação.

Cada pedra, vegetal ou animal em sua unicidade e integridade nos expõe:

─ Cumpra a função a que foi designado.
─ Seja autêntico.
─ Conecte à sua essência.
─ Observe, contemple, silencie-se.
─ Unifique-se ao contexto que te rodeia.

A sintonia com a natureza externa nos conecta à natureza interna. Ao percebermos estas influências encontramos dentro de nós um lugar mais sereno e conectado ─ O Eu unificado e consciente de sua missão.

Quando o coração acelera e a paixão se evidencia, não tem erro, estamos no lugar certo. O coração nos direciona àquilo que tem significado interno.

A natureza como um todo, interna ou externa, como numa orquestra em harmonia nos diz:

─ Acalma o teu ser.
─ Ama-te a si mesmo.
─ Não precisa mais procurar.

A casa que procuramos,
O amor que procuramos,
O bem-estar que procuramos,
A cura que procuramos...

Tudo aquilo que procuramos também nos procura. E quem sabe aquietamos nossa alma e nos permitimos a sermos encontrados? É o caminho que nos leva. É nossa casa quem nos encontra.

09/04/2012

Intimidade


Amanhece...

Ao longe o delicado canto dos bem-te-vis.

A breve chuva de ontem deixou a agradável sensação de uma brisa suave.

Céu azul e uma luz intensa.

O outono nos envolvendo.

De repente o mundo se tornou um útero bom. Uma sensação de ternura, amor e liberdade.

Silêncio...

Posso perceber o tônus das batidas de meu coração.

Posso perceber meu jeito de respirar.

Meus eus interiores anseiam por se manifestarem, posso ouvir as suas vozes. 

Expressam sentimentos ambíguos: risos de crianças, ensaios de notas musicais, poemas desestruturados, uivos de lobos.

Tua presença, me desperta a consciência de vazios a serem preenchidos, emoções a serem compartilhadas ─ dor e prazer.

O sentimento é de pertencer.

Eu pertenço.  Assim todas as vozes interiores tentam se harmonizar.

Já não penso ou resisto. Apenas me entrego e confio. A paz do seu sorriso me acalma, me relaxa e me tranquiliza.

Já não necessitamos mais de palavras. Nossos olhares falam por nós. Expressam sentimentos e emoções: aflições, desejos, o desespero em querer.

Sou tua.

Deixa-me olhar a vida através de teus olhos.

Deixa-me aprender a amar através de seu coração.

Ensina-me a viver e a perceber o mundo de uma maneira surpreendente.

Inspira-me.

Agora eu posso perceber a sua luz.

Posso perceber seu jeito de olhar e caminhar.

Sinto teu cheiro.

A textura de sua pele.

O desenho de seu sorriso.

A paz de contemplar o que não se diz.

O ritmo da fluidez do acontecer.

A sensação de que o tempo não existe.

O mundo se restringe a nós, num momento eterno.

Nosso mundo.

Posso compreender nossas fragilidades e vulnerabilidades.

Posso compreender nossas histórias.

Posso me perdoar por não ter tido antes a consciência de meus vazios e sem ilusões te aceitar do jeito que é.

Através de teus olhos consigo perceber o que procurava. Alma saciada e preenchida. Sinto-me livre para ser eu mesma ─ um ser original e único no jeito de ser e sentir o mundo.

Acordei. Percebo os véus que me impediam de reconhecer minha sensibilidade, todo o conhecimento de meu eu eterno, profundo e de criatividade infinita.

Despertei para um mundo real e verdadeiro onde tua presença me transforma.

Luz, respeito e acolhimento.

Meu mundo se modificou. Alquimia interna e externa. Comunicação livre e direta. Coloco-me espontânea.

Já não existem polaridades ─ eu apenas sou o que sou e me sinto plena.

Para sempre o elo que nos une nos protege da solidão.

27/03/2012

Orientação Vocacional


O ser humano é uma especialidade, sendo cada um único e original no jeito de ser e perceber o mundo em que vivemos.

Diante de qualquer objeto ou manifestação da natureza, cada pessoa lhe dá um sentido, um significado, cada um cria um cenário onde a vida se desenvolve.

Ao observarmos uma pequena semente:

- o artista observa seu desenho e sua cor.
- o comerciante avalia a possibilidade de seu faturamento no mercado.
- o biólogo a classifica segundo sua espécie.
- o historiador observa sua origem e os movimentos de expansão.
- o agrônomo observa a possibilidade do florescimento de seu ciclo.

Para tantos outros são infinitas as possibilidades.

Uma essência é um princípio abstrato, sem tempo nem espaço; é a trajetória de uma função; um ciclo determinado a se revelar.

Sementes de girassóis, por exemplo, estão determinadas a crescer com caules eretos, folhas amarrotadas e flores tão exuberantes que nos seduzem pelo tom vibrante de suas pétalas amarelas. Jamais imaginaríamos a natureza e a trajetória de seu ciclo vital observando apenas suas sementes.

Uma pessoa também já nasce com uma essência e, portanto, determinada a ser feliz. Por isso precisamos dar-lhe liberdade de expressão para que seu potencial seja visualizado e revelado ao mundo.

Esta autoconsciência é o senso de direção que nos coloca nos lugares certos, que nos faz sentirmos valorizados pessoalmente, que faz olhar a vida apaixonados e com motivação para nos aventurar e também para se dignifique e justifique todo o trabalho no ciclo da vida.

Mas esta é uma tarefa pessoal: descobrir e construir o próprio caminho. Por que o sentimento é responsabilidade de cada pessoa – dor ou prazer.

No momento em que é hora de tomar decisões quanto ao futuro e as profissões percebemos a necessidade de tomar consciência sobre a natureza do mundo interior da pessoa, isto é, visualizar como um raio-X, o interior da personalidade – seus talentos, habilidades e interesses para que possa se sentir segura. Assim o que está escondido fica iluminado, o latente manifesto, o interior é trazido à superfície; o que há de organizado e confuso se desvenda.

A orientação vocacional é o instrumento pelo qual se faz a luz – através de entrevistas e técnicas projetivas a pessoa consegue visualizar seu jeito de ser e de conceber a vida e com isto naturalmente materializar àquelas realizações que lhe tem significados.

Pessoa autoconsciente produz mais e melhor e acima de tudo é feliz por que encontra identificação e reconhecimento naquilo que produz. O valor de suas realizações é infinitamente melhor.

05/03/2012

Vínculos

Vento terno e suave.
Um anjo fixou seu olhar no meu, tocou meu útero, criou um elo que não nos separa. 
Agora eu me sinto protegida.

Laços espontâneos e naturais...
Laços que se constroem...
Laços que se modificam com o passar do tempo...
Laços que libertam e que aprisionam...
Laços eternos...
Sempre laços.

De que natureza compõe o fio, o elo que nos unem às pessoas que amamos? Como é a textura, a resistência e a flexibilidade da trama que estrutura este laço?
Lembrando Exupéry: “O essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração”.

Vínculos fortes e bem estabelecidos nos fazem olhar a vida com confiança em si mesmo e no futuro. A certeza de um amanhã com luz, esperança e segurança. 
A mão que nos ensina os passos e indica os caminhos bons nos desenvolve a crença no valor pessoal.

Vínculos são viscerais. Somos tomados por inteiro, na alegria e no desespero.

Para se viver um grande vínculo, há que se ter coragem. Coragem para se entregar e se humanizar, coragem de ser espontâneo. Tomar consciência do caos interior e se posicionar. Coragem de ser irracional, de perder o controle, de ser ambivalente, de se emocionar, rir e chorar, querer viver e morrer, de sentir dor e prazer – correr riscos.

Estes riscos fazem a vida ter sentido: na vida é imprescindível evoluir com significado interno, ampliar a consciência de nós mesmos. Por isso toda paixão será eternamente valorizada, por que ela indica nossas necessidades afetivas mais profundas.

Há que se ter coragem de nos reconhecermos como seres humanos, com fragilidade, limites e disposição a evoluir. Somente aceitando nossa fragilidade compreenderemos a fragilidade de nosso amado. Isso fortalece o vínculo.

Para construirmos um vínculo resistente e flexível, há que se ter independência, autonomia e consciência de valor, por que é preciso ter respeito à individualidade de cada um, e às vezes nossas expectativas podem ser pesadas demais, e por algum motivo o nosso amado não esteja preparado a evoluir ou não ser forte da maneira como desejamos. Precisamos ter cuidado com o nosso amado.

Para construirmos um vínculo de amor também há que se ter respeito à liberdade. Por que o mundo de cada um é único e às vezes até absoluto. E nosso amado pode escolher partir ou ficar um tempo distante para cuidar de suas necessidades individuais. E às vezes, este silêncio é longo demais e a gente até desconfia da existência do laço. E precisamos respeitá-lo, para o seu bem, para o nosso bem, para nossa evolução. E mesmo distante nós o amamos, e ele continua a nos inspirar.

Pessoas muito especiais passam por nossas vidas e nos sensibilizam profundamente, deixam marcas dentro de nós – transformam o nosso jeito de olhar as coisas. Por isso precisamos aprender a amar sem sofrer, a valorizar cada momento em que estamos juntos, por que estes não voltam jamais. Precisamos aprender a nos gratificarmos com a presença do outro e eternizar este instante. Confiantes de nossa capacidade de usufruir afetivamente.

Estes laços não se rompem jamais, sempre estarão vivos dentro de nós, apesar do tempo, das mudanças, dos ciclos de vida, das escolhas pessoais e por que não dizer da morte.

− Vai, eu me rendo, eu aceito a vida e o modo como as coisas acontecem mesmo sem compreender os porquês.
− Vai, encontra o teu caminho e confia no meu amor.

Distante ou perto fisicamente eu estarei ao seu lado.
Admirando-te...
Contemplando-te...
Conspirando tua alegria...
Ora tentando protegê-lo, ora tentando libertá-lo...
Desejando o teu bem...

12/02/2012

A beleza da incerteza


Vento inesperado.

O sopro dos anjos arrancou os véus que protegiam meu corpo.

Destruiu o meu jardim.
Do caos surge a luz.

Em nossa vida, nada é mais certo que o incerto, o inesperado, o imprevisível.

Diante da força do inesperado nos sentimos desprotegidos e desamparados como pipa solta ao vento, como barco sem âncora.

O que está estruturado pode desabar. O que está desalinhado pode se organizar. O que está contido pode florescer. A única certeza é o movimento, a mudança.

Medo, hesitação e inquietude.

Estamos mergulhados num universo de possibilidades, o fluir de desdobramentos e efeitos, redes de conexões causais contínuas e ininterruptas.

As incertezas são indestrutíveis, apenas podemos dialogar com elas, tatear, nos perguntarmos “como os eventos acontecem”. Mas a segurança de que as coisas continuem como estão é impossível.

Viver é sinônimo de se aventurar, experimentar, surpreender, construir, renovar, aprimorar, evoluir... Não existe uma direção certa ou um jeito certo.

Cada um constrói a seu modo. Não existem caminhos pré-determinados ou mapas. Através da caminhada se constroem os caminhos. A cada passo, novos elementos nos surpreendem, aceleram o nosso coração, seja de alegria ou dor, prazer ou desprazer. Mas a constância é sempre não saber o que está por vir. E exatamente dessa circunstância surge o mais belo presente de nossa existência: a liberdade de ser e criar o nosso caminho com originalidade.

Superar as resistências...

Muitas vezes em nossa vida, pelo medo de sofrer colocamos armaduras, construímos castelos tão altos que nos tornamos prisioneiros de nós mesmos. Perdemos a conexão com a terra, o perfume das flores, o verde novo, como também perdemos o faro de perceber o predador. Então as forças da natureza intervêm de todas as formas para nos ajudar a quebrar nossa rigidez para que nossas forças criativas possam se desenvolver. Para que a intuição dos bons caminhos possa ser percebida e visualizada.

Espero que saibamos nos colocar flexíveis diante daquilo que nos apavora, por que estes são os momentos mais criativos.

Na incerteza do porvir, de não saber onde e nem quando se irá chegar, na explosão de emoções e sentimentos se percebe o sentido da vida, o colorido, o formato, o perfume ─ a qualidade de percepção, a descoberta daquilo que nos dá prazer, a beleza, a poesia da existência humana.

Mergulhados nas incertezas descobrimos a possibilidade de construirmos de um jeito que nos dê sentido e prazer, de questionar o que é imposto socialmente como correto, sair da polaridade e vivenciar a unicidade onde o ser é maior que o ter.

No caos podemos perceber o que de fato faz a vida valer a pena em nossa jornada.

Momentos de plena liberdade.

Uma tela em branco.

Histórias a serem escritas com vibração.

Quem sabe nos deixemos ser tocados pela vida e pela natureza e ouvir as lições que ela nos ensina?
Quem sabe não valorizemos tanto as teorias e nos arrisquemos a olhar a vida de uma forma original, onde o aprender tenha a função de libertar e não aprisionar?

Quem sabe podemos perceber que somos seres únicos com todo potencial criativo pronto a ser descoberto e percebido dentro de nós?

Quem sabe tiramos nossas armaduras e cuidamos de nossas dores preenchendo aquilo falta em nossa existência?


Quem sabe aprendemos a amar sem sofrer, a nos entregar, e que o amor seja sempre inspiração ímpar em nossa vida?

23/01/2012

Singularidade


Quero trazer meu anjo, meu menino para meu ventre, protegê-lo, amá-lo, cuidá-lo além daquilo que ele enxerga, para que ele tenha a oportunidade de ser livre.
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Quero enxergar beleza em flores secas espalhadas pelo chão, intuindo a trajetória de suas sementes.
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Quero manter viva a nítida imagem de um céu de estrelas de uma noite de dezembro me protegendo.
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Meu coração inundado de sentimentos.
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Quero ser singular. Um ser único e original no jeito de ser, sentir e observar o mundo que me rodeia. Quero ser uma especialidade.  Quero me colocar livre para ser o que sou e me expressar, compreendendo que minha criatividade é meu bem maior.

Quero olhar a vida com olhos apaixonados, sentir o coração acelerado e o corpo inteiro vibrando com conteúdos e situações que me tenham significado e viver sem medo, confiando em minha capacidade de resolução de conflitos e necessidades.

Quero apreciar a vida em cada instante. Enxergar a beleza do prazer ou da dor, e me sentir viva. Por que o tempo não existe.

Quero ver despencar os véus de minha consciência, minhas máscaras e escudos que me impedem de ver a realidade nua e crua de mim mesma, me impedindo de enxergar as possibilidades e escolhas. Quero me sensibilizar. Ouvir o som silêncio.

Quero ser livre... Livre para significar e ressignificar cada sentimento, cada necessidade dentro de mim. Apenas Ser. Não ter vergonha de me mostrar e contar minha história. Olhar o outro, apenas com seus olhos, assim como me olhar, limpa de expectativas do outro. Ter a chance de ser eu mesma.

Quero me desobrigar de ser perfeita aos olhos alheios. Apenas viver e compartilhar pessoas ou princípios com os quais eu tenha afinidade e sintonia. Assim eu terei um “bom encontro” comigo mesma. Nada tem maior significado na vida que autoconsciência.

Não posso esquecer o que amo senão serei infiel a mim mesma.
Se não houver amor naquilo que eu faça, todas as experiências serão vazias.

Quero ter orgulho de minhas criações.

Por que a vida assim nos exige, a imposição da lei se faz: evoluir com significado interno. Apenas construir e crescer internamente.

De que me adiantam as flores se eu não for capaz de sentir o seu perfume?
De que me adianta o mar se eu não enxergar o desenho da espiral em suas ondas?
De que me adianta o contato com as pessoas se eu não amar e aprender a receber e poder expor a minha fragilidade?
De que me adianta o dom de criar se eu não me enxergo no contexto onde eu vivo?
De que me adianta o dia se não houver a possibilidade de eu me sentir inteira?
De que me adianta viajar se eu não encontrar beleza no caminho e ver se repetindo velhos padrões de sofrimento?
De que me adianta a beleza do fogo se meus olhos estiverem fechados?
De que adianta o sorriso de uma criança se eu arranquei de mim a doçura e a inocência?
De que a me adianta a vida se eu não tiver a possibilidade de aventurar e correr o risco de sofrer?

Se eu não me conhecer e souber o que de fato me importa e me sensibiliza todas as experiências serão estéreis. Eu estarei aprisionada.

Quero mergulhar na cor e na forma de uma bolha de sabão e eternizar esse instante.


Quero ser singular...

06/01/2012

A paixão

Vento inquieto...
Dos céus surge um anjo que toca minhas mãos.
Com olhar terno e sereno, ele prende meu olhar.
Rouba-me o ar.
Oferta-me seu próprio ar.
Inspira-me.
Faz brotar asas em meu corpo.
Agora eu posso descobrir um mundo novo. Habitar vales longínquos de mim mesma. Descobrir um jeito novo de viver.

Paixão!

Sentimento envolvente, forte que me toma o controle da situação, assim como nas marés as águas invadem as areias.

Sinto um desejo de liberdade, de expandir os meus limites, de testar o meu poder pessoal. Quero descobrir o que há de sagrado e eterno dentro de mim.

Quero estar perto de meu anjo, minha alma desnudar, me colocar inteira e transparente, mostrar meus sentimentos mais íntimos e contar histórias. Histórias que não tem fim por que o tempo não existe ao lado dele. O mundo parou de girar, e o que somente existe é o presente momento de nós dois. Onde eu enxergo encanto e beleza em cada detalhe – assim como a folha que cai, o fluir das águas e o desenho das nuvens.

Da paixão eu preciso!

Força que me faz criar, um desejo de ver os sonhos se materializar. Agora já não basta somente saber é preciso sentir.

Onde quer que meu amado esteja, lá eu estarei a contemplá-lo. A singularidade de meu anjo é o alimento de que necessito para encontrar dentro de mim um jeito mais harmonioso de viver. Uma ternura no modo de falar, de olhar, de me envolver e me fazer pertencer.

Muito eu preciso desta leveza para viver, pois esta me ampara e me protege, me embala quando as dores, o desprazer, suor e lágrimas inevitáveis na vida me surpreendem. São os braços de meu amado que me elevam e me acolhem quando aflora em mim a fragilidade.

Sim. Fragilidade humana. Quero viver a cada dia me humanizando mais e mais. Ter a consciência daquilo que me falta, saber receber e com isso pessoalmente crescer. Quero me abrir, compartilhar meus sentimentos, buscar no meu amado o alimento, o afeto que me falta. Quero esse colo, quero esse porto seguro, onde sei que jamais existirão prisões, imposições ou polaridades. Eu apenas sou, ele apenas é o que é – a liberdade de ser prevalece. Apenas doação, espontaneidade, apenas bons encontros e alegria.

Quero manter acesa a chama da paixão dentro de mim!

Agora eu percebo que minha potência está na capacidade de buscar no outro o alimento afetivo de que necessito; de sair do isolamento e abraçar o meu amado – observar o seu jeito, usufruir de sua companhia, olhar o mundo com seus olhos e poder sonhar, sonhar e sonhar; entregar-me, e ver os limites de minha individualidade se diluindo.

Agora eu sou capaz de me recriar a cada dia. De me reinventar a cada projeto. A paixão me faz sentir livre para brincar, me arriscar, partilhar. Mesmo que eu esteja só, posso ter a sensação de comungar.

Vínculo doce e seguro.
Vínculo de alegria e prazer.
Vínculo de cuidado.

Propósitos da construção de caminhos de mãos dadas.

A paixão fez de mim poeta e criança.

Faz-me evoluir como ser humano, me desarmando, recuperando a naturalidade de ser – aceitando minha fragilidade.

Faz-me ousar, descobrir a aventura de sonhar e amar, de voar com os pés no chão. De me sentir protegida pelos braços de meu anjo.