23/01/2012

Singularidade


Quero trazer meu anjo, meu menino para meu ventre, protegê-lo, amá-lo, cuidá-lo além daquilo que ele enxerga, para que ele tenha a oportunidade de ser livre.
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Quero enxergar beleza em flores secas espalhadas pelo chão, intuindo a trajetória de suas sementes.
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Quero manter viva a nítida imagem de um céu de estrelas de uma noite de dezembro me protegendo.
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Meu coração inundado de sentimentos.
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Quero ser singular. Um ser único e original no jeito de ser, sentir e observar o mundo que me rodeia. Quero ser uma especialidade.  Quero me colocar livre para ser o que sou e me expressar, compreendendo que minha criatividade é meu bem maior.

Quero olhar a vida com olhos apaixonados, sentir o coração acelerado e o corpo inteiro vibrando com conteúdos e situações que me tenham significado e viver sem medo, confiando em minha capacidade de resolução de conflitos e necessidades.

Quero apreciar a vida em cada instante. Enxergar a beleza do prazer ou da dor, e me sentir viva. Por que o tempo não existe.

Quero ver despencar os véus de minha consciência, minhas máscaras e escudos que me impedem de ver a realidade nua e crua de mim mesma, me impedindo de enxergar as possibilidades e escolhas. Quero me sensibilizar. Ouvir o som silêncio.

Quero ser livre... Livre para significar e ressignificar cada sentimento, cada necessidade dentro de mim. Apenas Ser. Não ter vergonha de me mostrar e contar minha história. Olhar o outro, apenas com seus olhos, assim como me olhar, limpa de expectativas do outro. Ter a chance de ser eu mesma.

Quero me desobrigar de ser perfeita aos olhos alheios. Apenas viver e compartilhar pessoas ou princípios com os quais eu tenha afinidade e sintonia. Assim eu terei um “bom encontro” comigo mesma. Nada tem maior significado na vida que autoconsciência.

Não posso esquecer o que amo senão serei infiel a mim mesma.
Se não houver amor naquilo que eu faça, todas as experiências serão vazias.

Quero ter orgulho de minhas criações.

Por que a vida assim nos exige, a imposição da lei se faz: evoluir com significado interno. Apenas construir e crescer internamente.

De que me adiantam as flores se eu não for capaz de sentir o seu perfume?
De que me adianta o mar se eu não enxergar o desenho da espiral em suas ondas?
De que me adianta o contato com as pessoas se eu não amar e aprender a receber e poder expor a minha fragilidade?
De que me adianta o dom de criar se eu não me enxergo no contexto onde eu vivo?
De que me adianta o dia se não houver a possibilidade de eu me sentir inteira?
De que me adianta viajar se eu não encontrar beleza no caminho e ver se repetindo velhos padrões de sofrimento?
De que me adianta a beleza do fogo se meus olhos estiverem fechados?
De que adianta o sorriso de uma criança se eu arranquei de mim a doçura e a inocência?
De que a me adianta a vida se eu não tiver a possibilidade de aventurar e correr o risco de sofrer?

Se eu não me conhecer e souber o que de fato me importa e me sensibiliza todas as experiências serão estéreis. Eu estarei aprisionada.

Quero mergulhar na cor e na forma de uma bolha de sabão e eternizar esse instante.


Quero ser singular...

06/01/2012

A paixão

Vento inquieto...
Dos céus surge um anjo que toca minhas mãos.
Com olhar terno e sereno, ele prende meu olhar.
Rouba-me o ar.
Oferta-me seu próprio ar.
Inspira-me.
Faz brotar asas em meu corpo.
Agora eu posso descobrir um mundo novo. Habitar vales longínquos de mim mesma. Descobrir um jeito novo de viver.

Paixão!

Sentimento envolvente, forte que me toma o controle da situação, assim como nas marés as águas invadem as areias.

Sinto um desejo de liberdade, de expandir os meus limites, de testar o meu poder pessoal. Quero descobrir o que há de sagrado e eterno dentro de mim.

Quero estar perto de meu anjo, minha alma desnudar, me colocar inteira e transparente, mostrar meus sentimentos mais íntimos e contar histórias. Histórias que não tem fim por que o tempo não existe ao lado dele. O mundo parou de girar, e o que somente existe é o presente momento de nós dois. Onde eu enxergo encanto e beleza em cada detalhe – assim como a folha que cai, o fluir das águas e o desenho das nuvens.

Da paixão eu preciso!

Força que me faz criar, um desejo de ver os sonhos se materializar. Agora já não basta somente saber é preciso sentir.

Onde quer que meu amado esteja, lá eu estarei a contemplá-lo. A singularidade de meu anjo é o alimento de que necessito para encontrar dentro de mim um jeito mais harmonioso de viver. Uma ternura no modo de falar, de olhar, de me envolver e me fazer pertencer.

Muito eu preciso desta leveza para viver, pois esta me ampara e me protege, me embala quando as dores, o desprazer, suor e lágrimas inevitáveis na vida me surpreendem. São os braços de meu amado que me elevam e me acolhem quando aflora em mim a fragilidade.

Sim. Fragilidade humana. Quero viver a cada dia me humanizando mais e mais. Ter a consciência daquilo que me falta, saber receber e com isso pessoalmente crescer. Quero me abrir, compartilhar meus sentimentos, buscar no meu amado o alimento, o afeto que me falta. Quero esse colo, quero esse porto seguro, onde sei que jamais existirão prisões, imposições ou polaridades. Eu apenas sou, ele apenas é o que é – a liberdade de ser prevalece. Apenas doação, espontaneidade, apenas bons encontros e alegria.

Quero manter acesa a chama da paixão dentro de mim!

Agora eu percebo que minha potência está na capacidade de buscar no outro o alimento afetivo de que necessito; de sair do isolamento e abraçar o meu amado – observar o seu jeito, usufruir de sua companhia, olhar o mundo com seus olhos e poder sonhar, sonhar e sonhar; entregar-me, e ver os limites de minha individualidade se diluindo.

Agora eu sou capaz de me recriar a cada dia. De me reinventar a cada projeto. A paixão me faz sentir livre para brincar, me arriscar, partilhar. Mesmo que eu esteja só, posso ter a sensação de comungar.

Vínculo doce e seguro.
Vínculo de alegria e prazer.
Vínculo de cuidado.

Propósitos da construção de caminhos de mãos dadas.

A paixão fez de mim poeta e criança.

Faz-me evoluir como ser humano, me desarmando, recuperando a naturalidade de ser – aceitando minha fragilidade.

Faz-me ousar, descobrir a aventura de sonhar e amar, de voar com os pés no chão. De me sentir protegida pelos braços de meu anjo.