12/02/2012

A beleza da incerteza


Vento inesperado.

O sopro dos anjos arrancou os véus que protegiam meu corpo.

Destruiu o meu jardim.
Do caos surge a luz.

Em nossa vida, nada é mais certo que o incerto, o inesperado, o imprevisível.

Diante da força do inesperado nos sentimos desprotegidos e desamparados como pipa solta ao vento, como barco sem âncora.

O que está estruturado pode desabar. O que está desalinhado pode se organizar. O que está contido pode florescer. A única certeza é o movimento, a mudança.

Medo, hesitação e inquietude.

Estamos mergulhados num universo de possibilidades, o fluir de desdobramentos e efeitos, redes de conexões causais contínuas e ininterruptas.

As incertezas são indestrutíveis, apenas podemos dialogar com elas, tatear, nos perguntarmos “como os eventos acontecem”. Mas a segurança de que as coisas continuem como estão é impossível.

Viver é sinônimo de se aventurar, experimentar, surpreender, construir, renovar, aprimorar, evoluir... Não existe uma direção certa ou um jeito certo.

Cada um constrói a seu modo. Não existem caminhos pré-determinados ou mapas. Através da caminhada se constroem os caminhos. A cada passo, novos elementos nos surpreendem, aceleram o nosso coração, seja de alegria ou dor, prazer ou desprazer. Mas a constância é sempre não saber o que está por vir. E exatamente dessa circunstância surge o mais belo presente de nossa existência: a liberdade de ser e criar o nosso caminho com originalidade.

Superar as resistências...

Muitas vezes em nossa vida, pelo medo de sofrer colocamos armaduras, construímos castelos tão altos que nos tornamos prisioneiros de nós mesmos. Perdemos a conexão com a terra, o perfume das flores, o verde novo, como também perdemos o faro de perceber o predador. Então as forças da natureza intervêm de todas as formas para nos ajudar a quebrar nossa rigidez para que nossas forças criativas possam se desenvolver. Para que a intuição dos bons caminhos possa ser percebida e visualizada.

Espero que saibamos nos colocar flexíveis diante daquilo que nos apavora, por que estes são os momentos mais criativos.

Na incerteza do porvir, de não saber onde e nem quando se irá chegar, na explosão de emoções e sentimentos se percebe o sentido da vida, o colorido, o formato, o perfume ─ a qualidade de percepção, a descoberta daquilo que nos dá prazer, a beleza, a poesia da existência humana.

Mergulhados nas incertezas descobrimos a possibilidade de construirmos de um jeito que nos dê sentido e prazer, de questionar o que é imposto socialmente como correto, sair da polaridade e vivenciar a unicidade onde o ser é maior que o ter.

No caos podemos perceber o que de fato faz a vida valer a pena em nossa jornada.

Momentos de plena liberdade.

Uma tela em branco.

Histórias a serem escritas com vibração.

Quem sabe nos deixemos ser tocados pela vida e pela natureza e ouvir as lições que ela nos ensina?
Quem sabe não valorizemos tanto as teorias e nos arrisquemos a olhar a vida de uma forma original, onde o aprender tenha a função de libertar e não aprisionar?

Quem sabe podemos perceber que somos seres únicos com todo potencial criativo pronto a ser descoberto e percebido dentro de nós?

Quem sabe tiramos nossas armaduras e cuidamos de nossas dores preenchendo aquilo falta em nossa existência?


Quem sabe aprendemos a amar sem sofrer, a nos entregar, e que o amor seja sempre inspiração ímpar em nossa vida?