14/06/2013

Efêmero

Água correndo no rio.

A chuva.

Um perfume.

O canto dos pássaros.

A emoção de um poema.

O colo do pai.

Um abraço inesperado.

Sonho de padaria.

Como condenar o efêmero se o brilho das manhãs nos acolhe com leveza e nostalgia?

Como condenar o efêmero se a espiral da rosa nos inspira perfeição e beleza em seu existir?

Como? Se o azul do mar em tonalidades sutis e delicadas nos convida a ir além de nossos horizontes.

Se o calor de uma mão nos aquece com promessas de carinho e proteção, como resistir ao doce encanto destas promessas?

Seria o sabor do efêmero tão intenso se ele fosse eterno? Um dia o poeta se perguntou.

Tudo nos parece efêmero. A incerteza e a impermanência do acontecer se impõem sobre nossas vontades, tanto interna como externamente. Num segundo tudo muda.

Diante das águas que correm no rio. No momento seguinte, o rio não é mais o mesmo, como também estamos diferentes diante do rio. Um pouco do rio fica na gente e um pouco da gente fica no rio.

O eterno parece seguro, tudo tão absoluto e tão cheio de si mesmo. Difícil de encontrar e de nos mantermos neste lugar. É passivo. Oferece-nos uma trégua, um alento em relação à dor de existir.

Como condenar o eterno, se a paz contida em seu núcleo nos recompõe?
Insano ou pleno.

Farto ou vazio.

Amável ou frio.

Comportado ou liberal.

Tolo.

Inocente.

Ninguém tem o direito de nos julgar frente à diversidade de nossas emoções e sentimentos.

Na dinâmica da vida, ganhar ou perder afetam nosso humor  ─ impondo-nos o desafio de tentar mantermos um equilíbrio.

Mas afinal, até que ponto e de que natureza, conseguiremos tal equilíbrio?

Se nada parece permanente, o que mantém estabilizado ao menos o entusiasmo pela vida? Já que o conforto da segurança torna-se complicado demais de se sustentar.

Efêmero ou eterno são polaridades que se completam. Oscilamos de um extremo a outro.

Quanto mais mergulharmos no efêmero mais encontraremos o eterno. 

Quanto mais mergulharmos no eterno mais encontraremos o efêmero. Por que simplesmente eles se completam.

O ponto de equilíbrio entre estes dois princípios é a originalidade. Um olhar sobre a vida de modo contemplativo ─ a fluidez da intuição do que é belo.

A originalidade é o lugar onde simplesmente somos e evoluímos naquilo que tem um significado interno ─ assim a dramaticidade da vida parece fazer algum sentido.

Sol ou lua.

Tragédias ou comédias.

Valsa ou tango.

Se os ritmos dos movimentos externos estiverem em sintonia com os ritmos do coração encontraremos o que nos faz olhar a vida apaixonados.

Se estivermos no “nosso lugar”, no lugar original, saberemos como lidar com a impermanência dos fatos.

Ser original é colocar a arte naquilo que fazemos, e esta é a única coisa que fica. O caminho mais curto na realização de uma vida saciada, plena e com gratificação interna. Um sentimento de conexão com tudo que nos cerca.

Parece que o tempo parou...

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