04/10/2011

A beleza de ser inacabado

Amanhece...
O canto dos bem-te-vis sinaliza os primeiros raios de luz espalhando alegria e leveza. Delicados seres nos encorajam a mais um dia de trabalho.
Do tronco de pessegueiro recém podado surgem os primeiros ramos de um verde novo em folha.
A chuva de ontem se guardou nas folhas do pé de magnólia, que agora refletem luz, como se sua missão fosse irradiar encanto e magia.
A dança dos narcisos nos convida a tocá-los. A vaidade das azaléias, em plena exuberância impõe-nos admirar a beleza de seus tons.
Sinais de setembro.
Tudo absurdamente diferente! Cada pessoa, cada ser, ou cada objeto irradiando uma mensagem, uma expressão.
Em nossa volta tudo está vivo ─ ciclos determinados a se desenvolver, a se aperfeiçoar, a se descobrir, a se revelar, a se reinventar.
A liberdade do vento nos inspira a perceber a liberdade de ser, a manifestar o potencial de criatividade já pronto dentro de nós.
E o vento também nos diz: eis o maior de todos os mistérios, somos seres em transformação ─ infinitamente inacabados.
O potencial de criatividade precisa emergir, aflorar: a vida vale pela ampliação da consciência de nós mesmos. E cada um tem a sua história a criar, desenvolver e atuar.
Mas existe uma força social que nos tenta impedir o desabrochar 
desta força. Uma crítica, uma imposição de poder com regras e normas, como se a vida vertesse por um único caminho, um único modo de ser e se manifestar.
A originalidade é o equilíbrio.
Cada ser humano buscando um significado próprio, que ao longo da vida vamos lapidando e refinando. Tarefa esta que nunca estará pronta, portanto, bela, pela natureza inacabada, incompleta e a se redefinir.
O tempo é agora.
Tempo de amar, de ser simples, de recuperar a inocência, a naturalidade de ser.
Tempo de ser espontâneo, de ter somente bons encontros, tempo de ser original.
Tempo de observar os sincronismos, as afinidades.
Tempo de preencher os vazios deixados pela infância, de se comprometer com a criança interior. Tempo de perdoar os nossos pais.
Tempo de desarmar, eliminar os escudos que nos impedem de perceber a vida. Tempo de sair da anestesia.
Para que possamos então crescer, evoluirmos como pessoa, aprendendo a tolerar a dor, as diferenças pessoais, a fragilidade, o medo, a incerteza do porvir, desnudando-nos de nossos narcisismos.
Para que a doçura de nossas vozes possa acolher o próximo. O toque de nossas mãos eliminar o veneno do mau uso do poder social.
Para que possamos enxergar a cada dia como novo e único, e a nós mesmos com um potencial de infinitas possibilidades e escolhas.

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